Mais comércio após a pandemia?
Quando o presidente argentino Fernández visitou a Alemanha no início de 2020, ele esperava uma cooperação econômica mais intensa. Depois disso veio a crise do coronavírus.
Foi há apenas meio ano quando a chanceler Angela Merkel e o presidente argentino Alberto Fernández se sentaram juntos em Berlim. A chanceler prometeu apoio a Fernández nas negociações com o Fundo Monetário Internacional – sabendo muito bem que a Argentina estava à beira de outra bancarrota nacional na época. Eles falaram também sobre o acordo comercial entre a UE e os países do Mercosul, já assinado, mas ainda não ratificado: Merkel era a favor, Fernández céptico.
As conversas de Fernández com representantes empresariais alemães foram promissoras: a Volkswagen anunciou um investimento de 800 milhões de dólares na Argentina – a empresa já é o maior empregador alemão no país sul-americano. Outras empresas alemãs também estariam dispostas a investir, disse a chanceler. O sinal era de um recomeço nas relações econômicas bilaterais.
Crise sem fim previsível
Seis meses depois, o encontro parece ter sido numa outra era. Em junho de 2020, a Time Magazine incluiu tanto a Alemanha quanto a Argentina entre os onze países com o melhor gerenciamento da crise do coronavírus. Mas no caso da Argentina, o resultado desta crise está em aberto, dados os cofres vazios do Estado: as restrições impostas pela pandemia estão exercendo pressão sobre a economia e é limitada a capacidade do governo de intervir, dando apoio ao setor econômico. A Argentina chegou agora a um acordo com alguns de seus credores. Mas há falta de divisas, o desemprego está aumentando e a taxa de pobreza está acima de 40 por cento.
Entretanto, também a chanceler alemã expressou dúvidas sobre o acordo de livre comércio UE-Mercosul, devido às queimadas na região amazônica brasileira. As federações empresariais temem agora que sejam perdidos os impulsos para superar a crise do coronavírus. As associações ambientais, por outro lado, estão reivindicando um acordo completamente novo que enfoque a justiça social, bem como a proteção do clima e das espécies.
A Câmara Alemão-Argentina de Indústria e Comércio (AHK), em Buenos Aires, tinha desejado uma ratificação antecipada do acordo. “Os investidores precisam de segurança jurídica e regras consistentes de jogo”, diz a diretora executiva Barbara Konner. Embora ela enfatize o grande potencial da Argentina, por exemplo na mineração, “a pandemia está atingindo o país em seu terceiro ano de recessão”.
Tradicionalmente, a Alemanha exporta sobretudo produtos automotivos e industriais, assim como produtos farmacêuticos para a Argentina. Do lado oposto, são principalmente produtos agrícolas, como a carne bovina e a soja, que vão para a Alemanha. Mas da mesma forma como a economia global, o comércio entre os dois países também entrou em colapso durante a pandemia. Segundo o Ministério das Relações Exteriores argentino, a Argentina exportou mercadorias no valor de 358 milhões de dólares para a Alemanha no primeiro semestre de 2020, 26,9% a menos do que no ano anterior. A Alemanha, por sua vez, exportou mercadorias no valor de 1.028 milhões de dólares para a Argentina, também cerca de 27% a menos do que em 2019.
Cerca de 12.000 quilômetros separam os dois países. Desde o final de março de 2020, as fronteiras da Argentina estão fechadas, o aeroporto internacional de Buenos Aires está aberto apenas para voos especiais. Para as empresas de logística, a pandemia é um desafio particularmente grande, especialmente em termos de frete aéreo. “95% das aeronaves permanecem no solo durante a pandemia”, diz Christian Albrecht. Afinal, o diretor executivo da DB Schenker na Argentina está satisfeito que a digitalização tenha ganhado um novo impulso através da pandemia: “É bom que cada vez passos, especialmente na importação de mercadorias, possam ser tratados digitalmente. Isto nos ajuda e também a nossos clientes”.
O Ministério das Relações Exteriores argentino está contando com o aumento do comércio com a Alemanha no período posterior à pandemia. “Vemos oportunidades para a exportação de autopeças, produtos orgânicos, vinhos, minério de cobre e serviços baseados em conhecimento”, diz o secretário de Comércio Exterior Jorge Neme. “Ambos os países podem se complementar em seu comércio e, naturalmente, a Alemanha é também um parceiro comercial importante para nós devido ao tamanho de seu mercado”.
Barbara Konner da AHK suspeita que será bastante difícil a superação da crise pela Argentina: “Entretanto, ainda não ouvimos falar de nenhuma empresa alemã que queira deixar a Argentina. O compromisso das empresas é geralmente de médio a longo prazo”.
Produtos mais importantes no comércio bilateral em 2019
Exportações da Alemanha para a Argentina: máquinas, automóveis e autopeças, produtos químicos, produtos farmacêuticos, equipamentos elétricos
Exportações da Argentina para a Alemanha: alimentos e ração animal, produtos farmacêuticos, produtos de mineração, produtos agrícolas e de caça, veículos motorizados e peças para veículos motorizados.
Balança comercial de 2019
Exportações alemãs para a Argentina: 2,4 bilhões de euros.
Exportações argentinas para a Alemanha: 1,1 bilhão de euros.