Simplesmente renovável
A virada energética já pode ser vista em muitos lugares na Alemanha, dos Alpes ao Mar do Norte.
O planalto de Reiteralpe, nos Alpes de Berchtesgaden, reluz como pó de ouro no por do sol. Com suas rosas alpinas e seus pinheiros, ele emana uma atmosfera pacífica, de paraíso terrestre. Caminhantes estão sentados no terraço do hotel Traunsteiner Hütte e suas pesadas mochilas estão encostadas nas mesas de madeira. Em silêncio, eles saboreiam a cerveja de trigo bem fria e a sopa de cabra montesa bem quente. Isto tudo graças ao Sol, pois o hoteleiro Thomas Krüger, capta toda eletricidade, com exceção do gerador diesel de emergência, da instalação fotovoltaica e da energia térmica solar, sem a emissão de um grama sequer de dióxido de carbono.
Aqui em cima se pode admirar uma faceta da revolução que não se vê em muitos países, a virada energética. Outras atrações podem ser encontradas em outros lindos recantos da Alemanha, como por exemplo no impetuoso Mar do Norte, onde o primeiro parque eólico em alto-mar, o Alpha Ventus, a 45 quilômetros da costa, fornece eletricidade para 70 000 casas. Os turistas podem observar este espetáculo fazendo uma excursão de avião ou navio. Também no centro de Berlim, onde uma visita guiada pelo Departamento Federal de Imprensa mostra como uma técnica muito requintada serve para climatizar os escritórios e as salas de conferência através de água quente. Recomenda-se a caminhantes visitar a usina de Wehr, na floresta de Hotzenwald, que armazena eletricidade num lago artificial, como se fosse um acumulador gigantesco. “O sentido da viagem é comparar a imaginação com a realidade e ver as coisas como elas realmente são, em vez de pensar como elas poderiam ser”, disse uma vez o autor britânico Samuel Johnson. Parece um conselho paternal a turistas, para que não sigam apenas as rotas turísticas normais, a fim de comparar a realidade com seus possíveis preconceitos a respeito de um abastecimento energético radicalmente ecológico.
Por muito tempo se quis ridicularizar a firme vontade dos alemães de abandonarem o mais depressa possível a energia nuclear, o carvão e o petróleo. Como a quarta maior nação industrial poderia conseguir saciar sua sede de energia só com a força eólica, solar e hídrica? Mas neste meio tempo já ficou claro que isto pode funcionar. A virada não pode ser interrompida, não pode ser posta seriamente em questão. E ela é mais rápida do que se esperava. Cerca de 25% da eletricidade provem de fontes verdes. Pelo menos 80% deverão ser até 2050, segundo planos do governo federal. Cientistas preveem até mesmo 100% e muito mais cedo.
Outras nações querem seguir este exemplo. A Lei Alemã das Energias Renováveis (EEG), cuja concretização foi acelerada através de uma taxa paga por todos os consumidores, tornou-se um sucesso de exportação, sendo que 19 dos 27 Estados da EU a adotaram como modelo para sua reconstrução energética. Por que a virada energética não deveria ter sucesso? A natureza dispõe de suficiente material combustível. Em termos racionais, toda fonte renovável poderia saciar muitas vezes a sede mundial de energia. Estudos recentes mostram que a virada energética também pode ter êxito financeiramente. Calculando-se até 2050, os custos não seriam maiores do que os da força nuclear e do carvão. Mesmo que os preços de eletricidade tenham alta no começo, eles devem baixar cerca de 30% em médio prazo, resultando assim numa clara vantagem para o consumidor e a indústria. Atualmente, os alemães estão passando pela segunda fase da virada energética, a de “autoabastecedores”. Em vez de abastecer a rede com a eletricidade de 1,1 milhão de tetos de casas com instalações fotovoltaicas, a custos subvencionados, eles próprios usam a energia. Isto porque um kW/h do teto custa no momento 12 cêntimos, ao passo que um kW/h do abastecedor está custando 30 cêntimos.
Os fogões, as televisões e as lâmpadas funcionam, após a virada energética, com energia limpa de produção própria. Dentro em breve, também os carros elétricos serão abastecidos assim e a energia restante será armazenada em baterias instaladas no porão. Também se poderia dizer: o que o hoteleiro Thomas Krüger faz lá em cima, nos Alpes, está acontecendo milhões de vezes com as pessoas cá embaixo, nos vales. ▪
Rolf-Herbert Peters