“Fazer as transições de modo justo”
Qual é o futuro da Europa? Timmermans, comissário da UE, explica porque o Acordo Verde é muito importante na crise de coronavírus.
Frans Timmermans, comissário da UE, é vice-presidente executivo da Comissão da EU e comissário para a proteção do clima. Ele foi ministro das Relações Externas da Holanda e pertence à Comissão da UE desde 2014.
Sr. Timmermans, que consequência a pandemia do coronavírus tem sobre o “Green Deal”?
A Covid-19 nos mostrou o quanto nós somos vulneráveis. A crise nos fez ver, o quanto importante é a nossa saúde. Mas enquanto nós combatemos esse perigo iminente, as crises do clima e da biodiversidade continuam se agravando. Elas também são muito reais. Também elas têm efeito direto sobre a nossa saúde e o nosso bem-estar. Para mim é
importante ressaltar que o “Green Deal” não é nenhum luxo dos ricos. Ele é indispensável para todas as pessoas. Se dentro em breve vamos liberar bilhões de euros para apoiar as nossas economias e ajudar às pessoas a retomarem seus trabalhos, então devemos gastar esse dinheiro de maneira muito bem pensada.
Representantes do setor econômico afirmam não poder cumprir os padrões ambientais cada vez mais rigorosos, em virtude da crise econômica.
Eu lhes respondo que, mais cedo ou mais tarde, eles terão de aceitar essa nova realidade. Talvez eles ainda possam adiar por alguns anos os investimentos ou as medidas de transformação, mas em dado momento a realidade vai alcançá-los. Mesmo sem o “Green Deal” a mudança já estava em andamento. Pois tudo está se transformando agora. Nós nos encontramos em meio da quarta revolução industrial – a maneira como vivemos, trabalhamos, consumimos, jogamos fora: tudo está em transformação. A Covid-19 e a crise econômica consecutiva vão nos obrigar a dar passos muito, muito mais rápidos em direção aos investimentos e à transformação. Podemos enterrar a cabeça na areia e esperar que tudo fique como sempre foi. Mas isto não vai acontecer. Ou assumimos nosso destino nas próprias mãos ou vamos nos render a ele.
O senhor crê que, com a crise do coronavírus, ressurgiu um sentimento mais forte de coesão na UE – também no tocante à proteção do clima?
Eu posso entender que as primeiras reações de alguns países membros foi uma reação nacional, também porque alguns tinham a sensação de que a UE não reagia suficientemente rápido em seu todo. Finalmente, os países membros da UE compreenderam que só podemos vencer essa luta com uma cooperação. Isso vale para muitos outros desafios. A luta contra as crises do clima e da biodiversidade, em interesse da saúde e do bem-estar dos nossos cidadãos, poderá tornar-se a nova razão de ser da UE.
Os aspectos ecológicos foram suficientemente considerados no pacote de ajuda “Next Generation EU”?
Sim. Eu estou muito satisfeito que os temas verdes tenham sido inseridos substancialmente no nosso grande pacote de reconstrução “Next Generation EU”. Quando os países membros apresentarem seus planos nacionais, então a mudança ecológica – da mesma forma como a digitalização – serão uma parte importante. Isso é o queriam os chefes de governo europeus e isso foi o que preparamos. E tem que ser assim, pois precisamos construir uma economia verde, inclusiva e resistente. Se nós agora agirmos corretamente, então a Europa será uma pioneira no tratamento de todos estes setores: mantendo limpos o clima, o ar e a água, produzindo mais alimentos sustentáveis, eletrificando nossos transportes público e privado, bem como caminhando rumo a uma economia livre das emissões de CO2.
O que o senhor espera da presidência alemã do Conselho da UE?
Minhas expectativas são muito altas. A Alemanha é um país europeu especial. Ela mostrou repetidas vezes que é capaz de superar a si própria, não apenas em relação à sua forte indústria, mas também quanto ao vigor moral e político. É um país que decidiu que seu interesse nacional está ligado com o interesse coletivo da UE. Eu espero também que o coronavírus nos tenha ensinado que, se nós nos juntarmos nessa União, não existe quase nada que nós não possamos alcançar. Juntos.
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