“Que mundo você nos deixa?”
Laura Vargas de “Religiões pela Paz” sobre diálogo das gerações, responsabilidade e seu engajamento pela floresta tropical.
O lema da conferência “Religiões pela Paz” (RfP) deste ano foi “Gerações em Diálogo”. O que este diálogo significa para a senhora?
Eu pertenço à geração mais velha e acredito que temos uma responsabilidade para com as gerações mais jovens. Diante de crises como a mudança climática, mortes em massa de animais selvagens e a Covid-19, precisamos agir. Se continuarmos como estamos, tudo vai ficar muito pior. É por isso que acho que o diálogo entre gerações é muito importante, porque os jovens têm medo e continuam perguntando às gerações mais velhas: que tipo de mundo vocês estão nos deixando?
Que conclusões a conferência da RfP trouxe?
Os temas discutidos na conferência são muito importantes. Por exemplo, falamos sobre os efeitos de Covid-19 nas gerações futuras. Outro tema foi a segurança e como se poderia resolver os problemas atuais de segurança. E conversamos sobre o meio ambiente, que devemos respeitar e ver como nossa mãe e não como fonte de dinheiro e lucro. Nós, como fiéis, vemos Deus como o criador da natureza para todas as gerações futuras, portanto, é nossa responsabilidade preservá-la.
A conferência da RfP aconteceu pela terceira vez na cidade alemã de Lindau. Qual é o significado de Lindau para a senhora?
Em Lindau há o “Anel da Paz”, uma escultura de madeira que encarna um símbolo inter-religioso da paz. É um símbolo muito forte para nós, porque a paz tem de ser construída. Em muitas partes do mundo, a paz é apenas uma ideia e não uma realidade. Para muitos, a paz significa a possibilidade de viver numa sociedade harmoniosa, onde são reconhecidos como seres humanos e onde eles e seus filhos têm um futuro. É importante ter uma cidade onde haja um símbolo disso.
A senhora trabalha como mediadora para o Peru na iniciativa Interfaith Rainforest. Ela foi lançada em 2017 e trabalha para acabar com o desmatamento tropical. Por favor, nos fale sobre isso.
A iniciativa Interfaith Rainforest é uma plataforma influente. Entre outras coisas, reunimos líderes religiosos com povos indígenas. Os povos indígenas adquiriram sabedoria durante muito tempo e vivem em harmonia com a natureza. Precisamos aprender com eles. Nosso objetivo é deter o desmatamento, porque as florestas tropicais são fundamentais para nosso planeta. No Peru, por exemplo, 99% da água do país vem da Amazônia. Se continuarmos a destruir a floresta, ficaremos sem água.
Quais são suas tarefas como mediadora para o Peru?
Eu coordeno todo o trabalho. Como pessoa mais velha, tenho muito boas conexões com muitas pessoas. É fácil para mim abrir portas e chamar as pessoas que conheço para explicar o que estamos fazendo. Normalmente, a repercussão é ótima. Exatamente neste ano, lançamos o “Pacto pela Amazônia”, onde mais de cem instituições estão trabalhando juntas para tentar criar uma Amazônia saudável, sustentável, produtiva e resiliente.
Em 31 de maio de 2021, a Alemanha, a Noruega, o Reino Unido e os Estados Unidos assinaram uma declaração conjunta de intenções. Nela, eles declararam que continuarão a apoiar o Peru no combate à perda e degradação do ecossistema florestal. Que esperança lhe traz este apoio?
Penso que este é um acordo muito importante porque nos ajuda a defender a floresta e a natureza como tal. É importante ter parceiros em diferentes níveis, por exemplo, países como a Alemanha.
Laura Vargas Valcárcel é diretora executiva do Conselho Inter-religioso do Peru (IRC-Peru) desde 2009. Ele faz parte de “Religiões pela Paz”, uma organização internacional não governamental que visa contribuir para a paz global através do diálogo e da cooperação inter-religiosa. Laura Vargas é também a mediadora para o Peru da iniciativa Interfaith Rainforest, que luta contra o desmatamento tropical.