Traduzir entre as culturas
Bianca Donatangelo promove o intercâmbio alemão-brasileiro. Juntamente com uma sócia, ela dá consultoria a empresas e conecta a cultura brasileira na Alemanha.

No meio do bairro berlinense Schöneberg, numa rua de trânsito muito intenso, próxima à estação de metrô Nollendorfplatz, bate o coração da ACIBRA. A localização não é idílica, a imagem urbana típica de uma metrópole é cinza. Mesmo assim, na Agência para Cultura e Informação Brasil-Alemanha trabalha-se com afinco para tornar mais colorida a vida cultural na Alemanha. Bianca Donatangelo fundou a ACIBRA em 2008, juntamente com sua sócia Ulrike Göldner.
“Nós já trabalhamos juntas na área do intercâmbio cultural alemão-brasileiro desde a virada do milênio”, conta Donatangelo. Naquela época, elas se encontravam no Instituto Cultural Brasileiro em Berlim. Elas fundaram também a revista bilíngue (português-alemão) BRAZINE – um modelo mundial de jornalismo na diáspora brasileira. Porém, em algum momento, não dava mais para sustentar a revista de forma amadora. As duas se reorientaram profissionalmente e fundaram uma agência de comunicação intercultural.
“Nós somos procuradas sobretudo por produtores de cultura e artistas, às vezes também por professores e empresas”, explica Donatangelo. “Nossos clientes brasileiros desejam, em sua maioria, uma consultoria ou um suporte especializado, geralmente em redação. Os clientes alemães, europeus e também norte-americanos procuram nossa ajuda principalmente para trabalhos de tradução e assessoria de comunicação”. Muitas tarefas realizadas pela ACIBRA enquadram-se no chamado “marketing étnico”.
O coração da jornalista Donatangelo bate mais forte especialmente quando há cadernos de programação cultural ou livros para produzir. Porém, sua publicação mais conhecida é o “Guia da ACIBRA”: um catálogo com contatos de empresas e ofertas ligadas ao Brasil na Alemanha. Disponibilizado gratuitamente, o guia alcançou, de 2008 a 2013, mais de 30 000 pessoas. Sobretudo na Alemanha, mas também no Brasil existem interessados em suas orientações. Atualmente, este projeto está congelado, pois faltou financiamento para o salto para o mundo digital. Donatangelo espera ainda conseguir torná-lo viável no futuro.
Entretanto, a comunicação bicultural não está livre de equívocos. “Eles são naturalmente variados quando pessoas de diferentes culturas interagem”, diz Donatangelo. “Conteúdos em alemão não podem, por exemplo, ser sempre traduzidos literalmente para o português. Nem sempre uma expressão idiomática funciona no outro ambiente cultural”. Nessas horas, ajuda a experiência tanto da alemã Göldner quanto da brasileira Donatangelo em ambas as regiões: Ulrike Göldner nasceu em Berlim e estudou musicologia e brasilianismo. De 2007 a 2008, ela morou no Rio de Janeiro. Donatangelo veio de São Paulo e vive desde 2001 na Alemanha.
Como chefe da redação portuguesa do mais antigo jornal corporativo do mundo, o “Bosch Zünder”, a jornalista também conheceu um pouco da cultura empresarial alemã. Em Berlim, ela sente-se em casa em sua atividade de mediadora cultural e aprecia a bem-sucedida integração de muitos produtores culturais estrangeiros: “A cidade é especialmente aberta para produções culturais internacionais. Os incontáveis eventos, que acontecem aqui diariamente, são uma prova disso. A forma como a Alemanha valoriza, realiza e apoia o intercâmbio cultural é, na minha opinião, exemplar”. ▪