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“Marx foi genial, mas difícil de suportar”

O especialista em Marx, Thomas Kuczynski, esclarece porque Karl Marx foi um gênio, mas o marxismo fracassou apesar disso. 

04.05.2018
Quem foi a pessoa Karl Marx? Uma abordagem.
Quem foi a pessoa Karl Marx? Uma abordagem. © dpa

Thomas Kuczynski ocupou-se como quase ninguém com as obras, os pensamentos e a pessoa de Karl Marx (1818–1883). Sete perguntas ao último diretor do Instituto de História Econômica da extinta RDA.

Sr. Kuczynski, o senhor publicou novamente “O Capital” de Karl Marx no início de 2018. Por que? 
Karl Marx não pôde mais publicar o primeiro livro da sua “opus magnum” da forma que ele mesmo pretendia no final de 1881. O ponto central de controvérsia nas edições publicadas após a sua morte foi sempre, até que ponto as mudanças feitas por ele próprio na edição francesa deveriam ser levadas em conta na segunda edição alemã. Ele era de opinião, que lá ele “teria acrescentado algumas coisas novas e teria descrito muitas coisas de maneira substancialmente melhor”. Ele exigiu “que o tradutor sempre compare cuidadosamente a segunda edição alemã com a francesa, já que a última contém muitas mudanças e complementações importantes”. Isso foi o que eu fiz agora – a fim de contribuir para uma melhor compreensão. 

Quanto tempo o senhor trabalhou na obra de 800 páginas? 
Cerca de 20 anos com pausas, pois eu ainda trabalhei também em outras coisas. Mas, em tempo corrido, foram mais de dez anos com certeza. 

O marxismo-leninismo fracassou, porque o capitalismo provou ser incrivelmente flexível.
Thomas Kuczynski, especialista em Marx

O que se pode ainda aprender de Karl Marx hoje em dia? 
É preciso ler Mark com a cabeça afundada na atualidade. Tome a ecologia. Ela não desempenha, à primeira vista, nenhum papel em Marx. Mas, por exemplo, a incompleta “Crítica da Economia Política” contém uma declaração clara. Ele escreve que a forma capitalista de produção destrói a fonte de todas as riquezas. 

Por que o marxismo fracassou na prática? 
O marxismo-leninismo fracassou sobretudo, porque o capitalismo provou ser incrivelmente flexível e quase sempre esteve em condições de integrar os movimentos de tendência oposta. Tome a redução da jornada de trabalho. Sem a jornada de oito horas diárias de trabalho, não teria surgido a racionalização. 

Quando o senhor “encontrou” Karl Marx pela primeira vez? 
Na nossa casa, Marx era uma presença constante. Minha mãe editou seus escritos, meu pai leu tudo de cima a baixo. Quando um dia a minha professora primária – eu tinha talvez oito anos de idade e era além disso muito bom na escola – queixou-se com meus pais sobre a minha má caligrafia, eu simplesmente apontei um manuscrito de Marx, que estava sobre a escrivaninha do meu pai. “Eu também escrevo assim”, eu teria dito aos meus pais. Desde então, Marx ficou na minha cabeça. Quanto ao conteúdo, eu só me ocupei dele naturalmente muito mais tarde. 

Thomas Kuczynski über ein Genie mit Schwächen
Thomas Kuczynski © dpa

O senhor descreveu Karl Marx como gênio. O que era genial nele? 
Eu admiro nele essa ligação singular entre ciência e política, o que é raro nas Ciências Humanas e nas Ciências Sociais. Como cientista, ele examinou as coisas a fundo, ao mesmo tempo ele se esforçou em conseguir um grande impacto para as suas ideias. 

Ele também tinha fraquezas? 
Uma fraqueza foi o seu ímpeto de plenitude, que já fora criticado por Engels. Ele nunca chegou ao fim. Além disso, ele era na verdade uma pessoa difícil de suportar. Marx era autocrítico, mas também extremamente convencido de si próprio. Ele podia ser bastante insolente, também com os seus amigos. 

Entrevista: Martin Orth

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