“Aprender uns com os outros”
Uma aliança com o apoio da Alemanha deve ajudar para que a formação dual logre um avanço na América Latina e no Caribe.
Ele é “um grande defensor da formação dual”, que foi introduzida no México há 15 anos: Enrique Ku Herrera dirige lá a escola secundária nacional de ensino técnico profissional (CONALEP). A CONALEP está assumindo a primeira presidência de uma nova aliança latino-americana para a formação dual. A aliança é apoiada pelo Instituto Federal Alemão de Educação e Treinamento Profissional (BIBB).
Sr. Ku Herrera, por que o senhor apoia a expansão da formação dual no México e em outros países?
O modelo dual é uma maneira muito boa de oferecer aos jovens uma formação de alta qualidade e, portanto, uma qualidade de vida mais elevada, ao mesmo tempo em que proporciona às empresas os trabalhadores de que necessitam. O estudo universitário é muitas vezes muito teórico e para muitos jovens, ele tampouco é financiável. Ao mesmo tempo, a educação secundária superior é tradicionalmente nosso ponto crítico – muitos jovens abandonam a escola nesta fase, principalmente por razões econômicas. Eles então ajudam em casa ou trabalham na economia informal. Isto levou a um problema na América Latina, com os jovens que não estudam nem trabalham, chamados de “ni-nis”. Só no México, existem cerca de sete milhões deles.
Desde o início, a Alemanha apoiou o México na criação de sistemas duais, por exemplo, fornecendo assessoria, elaborando currículos e fomentando cooperação com empresas. Por isso, o país assume a liderança na região. Que experiências o senhor deseja compartilhar com seus colegas latino-americanos?
Constatamos que cada país tem de encontrar seu próprio modelo e que as experiências não são cem por cento transferíveis. As necessidades do mercado diferem às vezes de região para região, mesmo dentro de um país. As universidades tradicionais são muito lentas – muitas vezes precisam de anos antes que o currículo seja alterado, sem falar da introdução de novas disciplinas. A formação dual é muito mais flexível – e bem-sucedida. No México, por exemplo, 80 % dos graduados da CONALEP são posteriormente contratados por empresas parceiras, entre outras, nas indústrias automotiva e aeroespacial.
BIBB como parceiro na fundação e desenvolvimento da aliança
A aliança deve ser então uma espécie de plataforma de intercâmbio?
Sim, exatamente. Nosso objetivo é coletar, sistematizar e disseminar experiências para que todos possamos aprender uns com os outros. Os primeiros fóruns já foram realizados e uma primeira publicação deverá estar pronta em 2022. A propósito, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), um dos iniciadores da aliança, também está desempenhando um papel de liderança. Até agora, 15 países da América Latina e do Caribe aderiram a ela.
Qual é o papel do BIBB neste processo?
O BIBB é nosso parceiro estratégico já desde 2009. Agora nos apoiou na fundação da aliança e acompanhou todo o processo até agora, por exemplo, a organização de colóquios e a definição dos pontos prioritários.
Quais são esses pontos prioritários?
Por um lado, queremos desenvolver padrões pedagógicos comuns. Estes, por sua vez, devem facilitar a mobilidade dos professores e permitir um intercâmbio intercontinental. Além disso, queremos elevar o nível geral de qualidade da formação dual e ancorá-la mais firmemente tanto como instituição, quanto na consciência da população.
Existem experiências de outros países que o impressionaram particularmente?
No Brasil, por exemplo, os aprendizes da indústria agrária estão treinando o uso de drones para semear e reflorestar. Podemos aprender com isso. Aqui no México, durante a pandemia, os alunos da CONALEP projetaram robôs que administravam gel desinfetante e mediam a temperatura corporal em frente a hospitais e outras instituições. O Chile, por outro lado, é um líder no campo da formação de professores.
Formação atrativa mesmo na pandemia
De acordo com a UNICEF, cinco milhões de mexicanos abandonaram o sistema de educação formal desde o início da pandemia. A COVID-19 também teve um impacto negativo na formação dual?
Ao contrário da tendência nacional, conseguimos até aumentar o número de alunos matriculados na CONALEP, bem como oferecer cinco novos cursos de graduação. Também ganhamos novas empresas como parceiras e, por isso, fomos uma opção atraente para os jovens, especialmente durante a pandemia.
Há algum objetivo pessoal que o senhor deseja atingir com a aliança de formação profissional?
Estou planejando abrir um centro internacional de formação dual no sul do México, estruturalmente fraco, e gostaria de reunir lá todas as experiências mundiais. Isso seria um grande passo para o fortalecimento da formação dual no continente. Nunca se pode parar nesta área, há que acompanhar sempre a evolução dos tempos. No México, necessitamos de cursos novos e modernos que tratem da realidade virtual ou da internet das coisas. Tudo somado, vejo que há uma vontade de inovar na educação em toda a América Latina. A pandemia nos deixou claro que só podemos enfrentar os desafios com um esforço conjunto.