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Uma visão da União Europeia a partir da Alemanha

Apesar de todo o trabalho, a UE precisa ter capacidade e disposição também para defender os interesses europeus no mundo, diz Ulrich Ladurner (Die Zeit).

Ulrich Ladurner, 09.03.2020
Berlim: O rio Spree com a Catedral.
Berlim: O rio Spree com a Catedral. © f11photo - stock.adobe.com

Nós indagamos jornalistas de países europeus sobre o futuro da União Europeia – leia aqui a resposta de Ulrich Ladurner. Ele escreve para o semanário alemão Die Zeit.

Os alemães são europeus convictos, porque tiraram a lição certa da sua História. Esta é uma frase que se ouve frequentemente. Por mais certo que isso seja, pode-se interpretá-la também de forma diferente. A União Europeia oferece aos alemães a possibilidade de fugir da própria História. Isso foi formulado em tom ferino. Mas em nenhum outro país europeu, a União Europeia foi compreendida como projeto para a superação do Estado nacionalista tão radicalmente como na Alemanha. Inteiramente assim, como se fosse ele a causa de todos os males. Com isso, cai no esquecimento que muitos europeus ofereceram resistência contra os nazistas, em nome de sua Nação. Com vista a esse fato, a Alemanha  deveria ter um pouco mais de realismo e de senso de proporção. As expectativas da Alemanha em relação à Europa não são frequentemente as expectativas dos outros europeus. Abrir seus horizontes faria bem para a Alemanha.

Ulrich Ladurner
Ulrich Ladurner © Die Zeit

A União Europeia pode estar a caminho de um Estado federal, mas a marcha para isso é longa e cansativa. E não é absolutamente certo, que ele virá algum dia, no final. A União Europeia é um exemplo clássico de “work in progress” com resultado incerto. Por isso, é também inútil discutir a respeito da meta, muito mais proveitoso é realizar as tarefas que devem ser feitas. Os temas estão à mesa, visíveis para todos: clima, digitalização, migração, defesa.

A União Europeia tem de ser soberana, se quiser permanecer livre.
Ulrich Ladurner, Die Zeit

Diz-se sempre que estas questões só podem ser resolvidas em conjunto, apenas a nível europeu. No entanto, esta é uma crença que deve ser preenchida com conteúdo. Também aqui se requer realismo. A União Europeia não vai oferecer já amanhã a solução para todos estes temas. Mas ela vai avançar, talvez rastejando mas para a frente. Com isso, os europeus devem ter a sensação, apesar de toda a vagareza, de todos os esforços, que a UE está ganhando a capacidade de defender efetivamente os seus interesses no mundo. A União Europeia tem de ser soberana, se quiser permanecer livre. Como se pode lograr essa soberania, para isso existe uma resposta parcial a cada dia – mais não se deve esperar, mas menos também não. Que for impaciente deve considerar que a União Europeia é a ideia de que os Estados nacionais cooperem para vantagem mútua, às vezes de maneira mais intensa, outras vezes menos intensa. Isso soa prosaico, mas uma ideia melhor não foi oferecida até agora.

Ulrich Ladurner nasceu em 1962 no Tirol do Sul e, desde 1999, é redator internacional no semanário Die Zeit. Durante mais de duas décadas, ele fez cobertura em regiões de guerra. Desde 2016, é correspondente europeu de Die Zeit em Bruxelas. Ele publicou inúmeros livros.

© www.deutschland.de

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