“Eu sou por uma Europa das minorias, sem barreiras nacionais”
Joachim Umlauf, diretor do Instituto Goethe de Paris, avalia a Europa pela forma como ela trata os seus membros mais fracos.

Sr. Umlauf, encontra-se a Europa não apenas numa crise financeira, mas também numa crise de identidade cultural? Não chegou agora a hora da cultura, a hora de uma grande ideia?
Não me agrada a focagem numa suposta crise cultural ou até mesmo moral, uma vez que isto nos leva a navegar em desagradáveis águas ideológicas. Com isto, atribui-se às sociedades europeias apenas a adesão política a estruturas econômicas liberais e internacionais, mais e mais agressivas, com uma aceitação intencional das diferenças sociais nos contextos nacionais, renegando a comunidade social. Na França e na Alemanha, que eu conheço um pouco, só posso constatar isto de maneira muito limitada. No entanto, parece-me certo que a Europa se encontra num tipo de crise de gerações; que a geração mais jovem, que agora assume a liderança, considera como naturais muitas coisas, que foram grandes conquistas das gerações anteriores.
Qual é propriamente o elemento de ligação na cultura europeia – se se deixa de lado, por um momento, as linhas históricas de ligação?
Se falamos da produção artística em sentido restrito, então há que notar que ela em geral não está localizada nacionalmente, mas sim submetida a elevados padrões internacionais. É um paradoxo: de fato, a arte é “renacionalizada” em primeiro lugar na representação política exterior – por exemplo, através dos institutos culturais. E isto, porém, numa maneira que recorre ao próprio elemento de ligação da cultura europeia. Neste sentido, a política cultural tenta, em todas as partes da Europa, preservar a diversidade das formas linguísticas e artísticas de expressão, tanto no âmago da própria (multi-)cultura, como também em vista das influências interculturais vindas de fora – e sem aspirações de hegemonia cultural ou até mesmo nacional, através das quais o setor foi inteiramente dominado em épocas passadas.
Desemprego, falta de perspectivas. O que a cultura pode lograr num clima como este?
Considero fatal, aproveitar o efeito da cultura – como participação na produção e recepção de obras artísticas, mas também na forma do aprendizado de uma língua estrangeira – contra as necessidades sociais. Liberdade e humanidade só podem surgir e ser defendidas, onde as pessoas tenham a possibilidade de sentir-se livres, independente das necessidades materiais. Isto constitui o fundamento da nossa civilização.
Héctor Abad, o escritor colombiano, receia o receio que a Europa tenha perdido a alegria dos anos iniciais. Ele vê nisto o perigo de que populistas possam transportar a UE de volta aos pesadelos nacionalistas.
Duvido que em amplas camadas da população a Europa tenha despertado alguma vez tão grandes entusiasmo e alegria. Na realidade, a Europa não era, até poucos anos atrás, nenhum tema político interno. Os novos populismos de direita e de esquerda são, de fato, bastante preocupantes. A utopia europeia será medida no final pela forma como tratamos os nossos membros mais fracos. Os roma e os sintis são um bom exemplo para isto. Por isto, o meu lugar de anseio cultural é uma Europa das minorias, sem barreiras nacionais.
Como o senhor avalia a situação no seu país anfitrião, a França? E como reage a ela na sua programação?
As desavenças políticas entre a Alemanha e a França, com suas implicações culturais e sociais, mostram a grande importância das instituições mediadoras – mesmo nas relações estreitas e de bom funcionamento. Há que repassar a cada geração os conhecimentos essenciais sobre os outros. Os atritos têm sem dúvida a vantagem de que os pontos de vista se tornam claros, sendo que a compreensão profunda do outro nem sempre, mas frequentemente, necessita de conhecimentos da língua. Nós reagimos nas nossas palestras, nas quais esclarecemos e moderamos e tentamos tornar compreensível as posições dos outros.
O DR. JOACHIM UMLAUF é diretor do Instituto Goethe de Paris e diretor nacional do IG na França. O germanista e tradutor já foi diretor da Casa Heinrich Heine em Paris e do Instituto Goethe de Amsterdã/Roterdã na Holanda. www.goethe.de