“Um perigo para a democracia”
Qual é o papel das teorias da conspiração em conflitos? Um diálogo com o perito Michael Butter.
Assegurar o acesso a informações confiantes e promover a liberdade da mídia também são temas centrais da presidência alemã do G7, sendo que se devem ajudar os cidadãos e as cidadãs a reconhecer e combater ativamente as desinformações e as teorias da conspiração. Michael Butter, professor titular de Literatura e História Cultural da América do Norte na Universität Tübingen, Alemanha, vem se ocupando há muitos anos com as teorias da conspiração. Ele explica como elas surgem e porque elas podem ser um perigo para as democracias.
Senhor Prof. Butter, por que as pessoas acreditam em teorias da conspiração?
As teorias da conspiração oferecem explicações e fazem o mundo se tornar mais significante. Tudo o que acontece pode, assim, ter sido causado por um comportamento humano planejado. Nada acontece por acaso. Isto é basicamente o critério decisivo da interpretação do mundo do ponto de vista das teorias da conspiração.
Quais pessoas são especialmente vulneráveis a tais interpretações do mundo?
Por um lado são pessoas que sempre estão em procura de clareza. As teorias da conspiração dividem o mundo em bem e mal. E não há nada entre o bem e o mal. Por outro lado, as pessoas que têm a sensação de perder o poder estão inclinadas a acreditar nessas teorias. Elas creem que elas próprias ou o seu grupo ou até mesmo toda a nação podem perder o controle. As teorias da conspiração são atraentes para esse grupo de pessoas, pois elas não apenas lhes oferecem uma explicação para aquilo que está acontecendo, mas lhes dão de volta um pouco de controle. Essas pessoas podem exigir, pelo menos para si próprias, que estão cientes do que está ocorrendo.
Qual é o perigo das teorias da conspiração?
Nem todas as teorias da conspiração são perigosas. Existem, porém, três dimensões, através das quais elas podem se tornar perigosas. Em primeiro lugar, elas podem ser um catalizador de radicalização e, dessa maneira, conduzir a atos de violência. Pessoas que pensam que descobriram um complô podem estar certas de ter o dever de se armar e lutar contra esse complô. Foi o que aconteceu em Halle, em Christchurch e em Utøya. E então, pessoas são feridas ou morrem.
Em segundo lugar, as teorias da conspiração no setor da medicina são perigosas, pois, se os conhecimentos médicos estabelecidos forem negados, então a pessoa que os nega põe em perigo a si própria e as outras pessoas. É o que estamos vendo na pandemia do coronavírus.
Em terceiro lugar, as teorias da conspiração podem ser um perigo para as democracias, se elas abalarem a confiança em processos democráticos e instituições democráticas. No pior dos casos, as pessoas se deixam induzir por elas, agindo ativamente contra instituições democráticas. Foi o que vimos em 6 de janeiro de 2021 na invasão do Capitólio de Washington.
Há países que empregam histórias de conspiração para desestabilizar outros Estados?
Sim. Nos últimos anos, a partir de 2015, foram propagadas pelo Kremlin muitas desinformações e notícias falsas acerca do movimento de refugiados e uma suposta desintegração da Alemanha. Além disso, houve também a campanha de propaganda contra a Ucrânia a partir de 2014. E o suposto golpe de Estado de grupos nazistas na Ucrânia, orquestrado pelos EUA e pela OTAN. Na guerra na Ucrânia, parece até mesmo que o próprio grupo de confiança de Putin acreditou nessas teorias da conspiração, pensando seriamente que a Ucrânia as acolheria de braços abertos, o que não aconteceu.
Por que a política russa divulga notícias falsas e mitos em outros países?
Dessa maneira, o Kremlin tenta dividir a sociedade, provocar confusão e criar conflitos. Isso tudo deve fazer com que as posições, que vão contra os interesses russos, não possam mais se refletir na opinião pública.
Como se podem convencer os adeptos de teorias da conspiração da realidade?
Procurando travar diálogos com eles, fazendo-lhes perguntas sérias. Por que você vê isso de outra maneira que eu? Por que uma pessoa é para você um perito e outra não? Isso pode desencadear um processo de autorreflexão, mas não obrigatoriamente. Em todo caso, é um processo longo e fatigante.
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