Aqui vive o alemão médio
O lugarejo do Palatinado é tido como a comunidade mais mediana da Alemanha e, por isto, serve aos pesquisadores como área de testes de mercado
Nove horas da manhã: a padaria está cheia de clientes. Alguns deles, apressados, compram pãezinhos e “Bretzel”. Outros tomam seu café calmamente em pé em mesas altas. A atmosfera é agradavelmente movimentada. Fechando os olhos e sem prestar atenção às conversas, a gente pode imaginar que está numa cafeteria do norte da Itália. Mas não se pode deixar de ouvir o amplo dialeto palatino. Seis senhoras de meia idade conversam sobre acontecimentos locais e sobre sua saúde. Fala da mudança de uma pessoa que não está presente e de um caso de morte. “Oh, não, meu Deus” . . .
Algumas centenas de metros adiante, subindo a rua, o mundo parece ter prendido a respiração. Não há ninguém por perto e nota-se um silêncio fora do comum. Só se ouve raramente um carro, de vez em quando passa uma bicicleta, silenciosamente. Fachadas bem cuidados em tons claros marcam a imagem local. Sobre os telhados, trinam alguns pardais, ao longe canta um galo. E há ainda cortinas que se mexem. Alguém está por trás delas. Bem-vindo a Hassloch, no coração do Palatinado.
21 000 pessoas vivem aqui e a população está aumentando. “Para famílias com crianças é muito interessante vir para cá”, afirma Michael Rossdeutscher. O novo bairro residencial no sul do lugarejo é muito apreciado e oferece praticamente tudo o que se necessita, afirma ele. Rossdeutscher é chefe do departamento de obras da cidade e vive em Hassloch desde 1982. “Temos 103 associações, todos os tipos de escolas, uma piscina pública e ficamos próximos à autoestrada”. As conexões ferroviárias também são boas. Grande parte da população ativa viaja diariamente para Ludwigshafen, a cerca de 25 quilômetros, para trabalhar na BASF, o maior empresa química do mundo. Em Hassloch está sendo construído um novo parque industrial. O povoado possui dinamismo.
Mas não são estes aspectos que sempre fazem a presença de Hassloch na mídia. O povoado ganhou renome em todo o país como área de testes da Sociedade de Pesquisa do Consumo (GfK). Aqui se avalia a aceitação de novos produtos pelo mercado. Através de clientes reais em lojas reais. A amostragem permanente engloba cerca de 3500 de um total de mais de 11 000 domicílios de Hassloch, declara Göran Seil, diretor do departamento de Mercados de Teste da GfK. “Eles são uma mostra reduzida de todos os domicílios na Alemanha”. A estrutura etária do grupo de teste é semelhante à de toda a República Federal da Alemanha, afirma Seil. Assim, por exemplo, a cota de domicílios de uma pessoa com idade abaixo dos 30 anos é de dez por cento – o que corresponde quase exatamente à média alemã. “Também a divisão de renda é a mesma”. O índice de poder de compra atinge 101 pontos em Hassloch, na totalidade da Alemanha é de 100 pontos. Um sonho para as estatísticas e condições ideais para os pesquisadores de mercado.
Tudo começou no ano de 1985. Na época, a televisão a cabo foi introduzida na Alemanha e o povoado palatino foi um dos primeiros a ser conectados à rede. Para os especialistas da GfK, isto foi decisivo. Graças à tevê a cabo, podia-se agora transmitir novos comerciais de maneira objetiva. Somente a população de Hassloch podia assisti-los e não o resto do país. Isto é praticado ainda hoje. Mas os telespectadores não sabem quais dos numerosos comerciais fazem parte da programação de teste. Também nos supermercados locais, nada chama a atenção. “Nós lançamos no comércio varejista cerca de 15 novos produtos por ano”, informa Göran Seil. Em toda a Alemanha, são 30 000. Em Hassloch, quem quiser descobrir os produtos de teste misturados no grande volume de novos produtos tem de buscar muito atentamente.
Para os fabricantes, o teste de um produto sob condições reais acarreta enormes custos, mas com isto se pode poupar custos ainda maiores. Afinal, um fracasso em todo o país é muito dispendioso. Uma pasta de dente que não agrada aos consumidores ou um doce rejeitado oneram o balanço da firma muito mais que um teste local de mercado. Esta é a vantagem do laboratório de testes palatino, ressalta Göran Seil. “O que não agrada à população de Hassloch, não vai agradar em toda a Alemanha”. Isto foi comprovado em 29 anos de êxito, afirma o especialista. “Ainda não fizemos um único prognóstico errado”. Os clientes da GfK também podem mandar analisar em Hassloch a eficiência de diversas estratégias publicitárias. Quão efetiva é uma combinação de anúncios na mídia impressa e em comerciais de televisão? Que vantagens trazem as demonstrações de produto no comércio? Até mesmo o retorno de investimento, a relação entre custo e benefício de uma campanha publicitária, pode ser calculado de antemão, diz Seil.
Aos participantes dos testes são oferecidos alguns estímulos. A vendedora de açougue Manuela Ruffer e sua família fazem parte há 20 anos do grupo de teste. “Eles nos enviam todas as semanas uma revista com a programação de tevê”, afirma ela, bem humorada e sorridente. Há também, regularmente, sorteios de prêmios, bônus e similares. Só foi cancelada, infelizmente, a redução no preço da tevê a cabo. O comportamento de compra da família Ruffer, como de todas as outras pessoas da amostragem, é registrado com exatidão, através de um cartão com chip eletrônico. Ele tem de ser mostrado em toda compra num dos supermercados credenciados. Clientela transparente, a serviço da indústria de bens de consumo.
Mas Hassloch é realmente a média alemã, como os estatísticos gostam de ressaltar? Existe algo como uma “sensação de vida de Hassloch”? Jasmin Özdüzenciler, nascida na cidade palatina de Landau, mudou para o lugarejo há quatro anos, por razões profissionais. Ela trabalha para o Serviço de Informações Turísticas e elogia a acolhida dada às famílias pelo povoado. As pessoas se identificam também claramente com Hassloch. “É muito grande a coesão dos cidadãos de Hassloch”. E ainda há também as boas possibilidades de compras, esclarece Özdüzenciler.
A oferta é talvez até grande demais. Göran Seil observou nos últimos anos transformações no “panorama varejista” de Hassloch. Há uma tendência ao excesso de oferta e provavelmente de uma concorrência predatória, afirma o pesquisador da GfK. Principalmente os proprietários de pequenos negócios no centro do povoado são prejudicados pelo grande número de supermercados. Manuela Ruffer conhece os problemas dos donos de casas comerciais. Dois açougues tradicionais já tiveram de fechar as portas, relata ela, enquanto embrulha salsichas atrás do balcão. O seu chefe, ao contrário, declarou guerra contra os produtos baratos dos supermercados. Ele vende apenas carne de alta qualidade da região Hohenloher Land e prepara com ela os seus próprios produtos. Alguns clientes sabem dar valor a isto, afirma Ruffer. Também esta tendência existe em Hassloch. ▪