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"Um espaço onde você pode se sentir seguro"

A "Casa do Jornalismo Livre" na Costa Rica oferece proteção aos profissionais de mídia da região que estão sob ameaça.

Wolf-Dieter Vogel, 04.03.2025
A Iniciativa Hannah Arendt apoia jornalistas sob ameaça.
A Iniciativa Hannah Arendt apoia jornalistas sob ameaça. © BullRun/AdobeStock

Centenas de profissionais de mídia que fugiram, pelo menos, 54 redações fechadas e muitos colegas expostos aos maiores perigos - Manuel Pérez sabe exatamente o que significa trabalhar como jornalista em seu país natal, a Nicarágua. Em agosto de 2018, ele foi forçado a deixar o país por ter feito reportagens sobre protestos civis contra o governo. O regime do presidente Daniel Ortega o acusou de difamar a nação e emitiu um mandado de prisão contra ele. Pérez deixou sua casa e, desde então, vive em San José, a capital da vizinha Costa Rica. A partir daí, o homem de 31 anos escreve em seu portal "Intertextual" sobre Ortega, sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo, o sistema educacional em ruínas e os ataques a pessoas LGBTQIA+ na Nicarágua.

Uma vida difícil no exílio

A vida continua difícil para Pérez na Costa Rica – as lembranças traumáticas, o medo pelos parentes que ficaram para trás, os problemas financeiros. "O exílio deixa um trauma e você precisa falar sobre isso", diz ele. Desde 2024, Pérez tem recebido grande apoio da Casa para el Periodismo Libre, a "Casa do Jornalismo Livre" em San José. No centro, que foi inaugurado oficialmente em agosto de 2024, ele se reúne com colegas que vivem no exílio, faz novos contatos, continua sua educação e trabalha em seu portal na Internet. "É muito importante ter um espaço onde você se sinta seguro", diz Pérez. Ele está lá pelo menos duas vezes por semana. A casa em San José é financiada pela Iniciativa Alemã Hannah Arendt (veja o quadro de informações).

"Oferecemos treinamento, suporte técnico e ajuda social e psicológica, mas às vezes as pessoas vêm apenas para tomar um café", explica Marielos Gutiérrez, que dirige o centro. A Casa para el Periodismo Libre coopera com outras instituições, como a Universidade da Costa Rica (UCR), na área de educação continuada. "Os jovens que tiveram que parar de estudar na Nicarágua podem continuar seus estudos na UCR", diz Gutiérrez. Uma rede interamericana de jornalistas montou seu escritório nas salas e a UNESCO ajudou financiando móveis e um arquivo digital para apoiar os jornalistas.

Marielos Gutiérrez, chefe da"Casa para el periodismo libre"
Marielos Gutiérrez, chefe da"Casa para el periodismo libre" © privat

Treinamento adicional e contatos com advogados

Workshops sobre trabalho investigativo da imprensa e jornalismo de dados também estão no programa. Os cursos são organizados pela Deutsche Welle Akademie, entre outros, que gerencia o projeto junto com seu parceiro local na Costa Rica, o Instituto para a Liberdade de Imprensa e Expressão IPLEX. "Para muitos jornalistas, o treinamento adicional é muito importante para que possam continuar a exercer sua profissão no futuro", explica Julia Manske, diretora de programas da Academia DW do México, Guatemala e El Salvador. Ao mesmo tempo, o projeto se vê como uma interface. Por exemplo, ele organiza contatos com advogados. Afinal de contas, as pessoas no exílio geralmente precisam de aconselhamento ao lidar com as autoridades de imigração.

A "Casa do Jornalismo Livre" se dirige explicitamente a todos os profissionais de mídia exilados. No entanto, a grande maioria dos cerca de 100 jornalistas exilados que estão visitando o país atualmente são da vizinha Nicarágua. Assim como o portal de Manuel Pérez, a maior parte da mídia de oposição da Nicarágua também é operada da Costa Rica, e muitos dos operadores usam a "Casa para el Periodismo Libre" para esse fim, especialmente porque ela oferece acesso estável à Internet. "Lá, encontro principalmente colegas de veículos de mídia pequenos e menos conhecidos", explica Pérez. Outros jornalistas são da Venezuela, Honduras e El Salvador.

Centro de mídia nicaraguense no exílio

"Na verdade, queremos garantir que as pessoas ameaçadas possam trabalhar em seu país pelo maior tempo possível", explica Beate Weides, porta-voz da Iniciativa Hannah-Arendt. Mas se isso não for mais possível, eles querem ajudar a garantir que possam viver e trabalhar no exílio nas melhores condições possíveis. "A Costa Rica tem uma cultura relativamente favorável à mídia", diz Weides, explicando por que o país da América Central foi escolhido para sediar o centro. 

Manuel Pérez espera não ter que operar seu portal a partir de San José para sempre. Talvez ele possa retornar à Nicarágua um dia, diz ele cautelosamente. Ele pode se preparar para isso na "Casa do Jornalismo Livre". "Se Ortega e Murillo caírem", diz ele, "a mídia independente será importante para construir algo novo.“

Iniciativa Hannah Arendt

Iniciativa Hannah Arendt é um programa de proteção para jornalistas. O Ministério Federal das Relações Exteriores e o Comissário do Governo Federal para Cultura e Mídia lançaram o programa em 2022. A casa em San José é uma das ofertas mais recentes da iniciativa. Ele também apoia profissionais de mídia da Rússia, Belarus, Ucrânia, Afeganistão, Mianmar, Sudão e América Central, entre outros.