“Plantando árvores para poder viver em paz”
O fotógrafo brasileiro, Sebastião Salgado, transformou a fazenda de seus pais em uma reserva natural. Ela é mantida com o apoio da Alemanha.
Sebastião Salgado é um fotógrafo brasileiro conhecido por suas incríveis fotografias em preto e branco que documentam temas sociais e ecológicos. Nascido em 1944, Salgado iniciou sua carreira na fotografia na década de 1970.
Em seus trabalhos iniciais, Salgado documentou sobretudo as injustiças sociais. Depois de um estudo intensivo do sofrimento humano, Salgado passou a adotar uma abordagem voltada para a natureza. Ele permanece fiel ao seu estilo característico, preto e branco intenso e contrastes dramáticos, mas com maior foco na preservação e na beleza da terra.
Salgado já esteve em quase todo o mundo. No Brasil, ele fotografou nas minas de ouro da Serra Pelada e visitou a região amazônica mais de 80 vezes. Na Ruanda e no Congo, ele documentou o genocídio e o respectivo deslocamento. Na década de 1990, ele registrou em suas fotos o sofrimento da guerra da Iugoslávia. Ele visitou a Antártica e o Ártico para elaborar seu livro de fotos sobre a natureza, Genesis.
Uma de suas obras mais famosas é a série Workers (1993), que retrata trabalhadores de todo o mundo. Uma imagem particularmente conhecida mostra mineiros nas minas de ouro da Serra Pelada, no Brasil, trabalhando como formigas em uma enorme mina a céu aberto.
Tudo começou com uma depressão. “Eu tinha visto coisas tão terríveis em Ruanda que tinha vergonha de pertencer à espécie humana”, lembra o fotógrafo brasileiro, Sebastião Salgado, em um documentário do canal de televisão Rede Globo. Ele ficou doente física e espiritualmente e se retirou para a fazenda onde passou sua infância e que passou a administrar no lugar de seus pais Em vez da esperada floresta tropical, ele encontra uma paisagem estéril e doente. Seria possível aqui semear grama e criar gado como seu pai? A esposa de Salgado, Lélia, tem outra ideia: "Temos que replantar a floresta que estava aqui antes." Salgado registrou mais de 600 hectares do local como uma reserva natural privada e fundou a organização não governamental Instituto Terra em 1998 para administrá-la. Desde 2023, o apoio à organização vem da Alemanha, por meio do Instituto de Crédito para a Reconstrução(KfW).
O início não é fácil. 60 por cento das primeiras mudas morrem. Há falta de nutrientes e de chuvas e o solo está esgotado. Com o passar dos anos, Salgado e sua equipe aprenderam a cuidar melhor das árvores jovens. 26 anos depois, as colinas da fazenda Bulcão, em Aimorés, foram reflorestadas e outros projetos estão sendo desenvolvidos. “A maioria dos vizinhos não tinha água potável em suas terras”, diz Salgado. Suas nascentes estavam desprotegidas do sol e dos cascos do gado. O Instituto Terra está plantando mais de 2000 nascentes secas até que as primeiras comecem a brotar novamente. “A vida voltou, insetos, pássaros, os primeiros mamíferos - e com a vida na fazenda, minha vontade de viver também voltou”, diz Salgado.
A educação ambiental é outra parte do trabalho do instituto. “Fiquei tão empolgada quando fui selecionada para o projeto “Terrinhas” que não dormi nada por noites a fio”, lembra Thais Moraes Reis. Ela viajava para a fazenda Bulcão uma vez por mês com um grupo de outros alunos de onze a doze anos da região. “Lá assistimos a filmes sobre o ciclo da água, reciclagem e separação de resíduos.” Ela está aprendendo com as outras “Terrinhas”, como são chamadas as crianças, há três anos. Ela iniciou um projeto de separação de resíduos em sua escola e plantou uma horta com seus colegas de classe. Depois de estudar Educação, ela dirige os projetos “Terrinhas” e “Terra Doce” para jovens desde 2023 .
O trabalho do instituto depende de doações, que são usadas para financiar os 30 funcionários e a infraestrutura com um viveiro de árvores, veículos utilitários e equipamentos de trabalho. O trabalho com o projeto Terrinhas ficou inativo por anos por motivos financeiros. Desde 2023, a Alemanha tem sido o mais importante apoiador do projeto por meio do KfW. O gerente de portfólio do KfW, Hans Christian Schmidt, está impressionado com o engajamento, a rede de contatos e o reconhecimento do instituto na região. O projeto, que o KfW está financiando com 13 milhões de euros, inclui o reflorestamento de mais 2200 hectares de vegetação florestal e a reativação de mais de 2000 nascentes e cursos de água. Também serão realizados programas de treinamento e consultoria para a divulgação de tecnologias de reflorestamento, proteção e uso sustentável, explica Schmidt.
O objetivo: 360.000 nascentes brotando novamente
Eles costumavam convencer cada agricultor individualmente dos benefícios da reabilitação de nascentes, relata Gilson Oliveira, gerente de projetos do Instituto Terra e agricultor. Entretanto, eles estão se voltando diretamente para as cooperativas e associações rurais. Ele conta com orgulho: “Já ultrapassamos nosso objetivo provisório para o ano corrente - promessas de 427 hectares de área de reflorestamento - em junho.” É claro que é difícil convencer os pequenos agricultores a designar áreas protegidas que serão perdidas para sua produção. A longo prazo, isso só funcionaria por meio de pagamentos de equalização. Portanto, o próximo passo é introduzir áreas agroflorestais, que melhoram o balanço hídrico e geram rendimentos adicionais.
O sonho de Sebastião Salgado e sua esposa é reflorestar toda a bacia do Rio Doce e reabilitar suas 360.000 nascentes. Um grande desafio: Com 90.000 quilômetros quadrados, a bacia é tão grande quanto Portugal. “Realizaremos parte dela com o apoio do KfW”, diz Salgado, de 80 anos, que superou sua depressão e, desde então, fotografou inúmeras imagens da natureza em grande escala. “Nos dias de hoje, precisamos simplesmente plantar árvores e cultivar a biodiversidade para viver em paz no mundo.”