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A grande tarefa 
das cidades da Alemanha

As cidades fazem muito para acolher os requerentes de asilo. Algumas chegam aos seus limites.

30.12.2015

Entre as camas, o pessoal do grupo de ajuda colocou toldos de plástico como cortinas, que ressoam um pouco quando se passa por eles. Em alguns destes toldos estão penduradas toalhas, calças de crianças, uma jaqueta de inverno. Um jovem de cabelos negros e de óculos passa pelo toldo e diz amavelmente em inglês: “Hello, how are you” (Oi, como vai?) Na parede, sob o teto, há um cesto de basquetebol. O edifício no bairro de Sand, em Bergisch Gladbach, é um ginásio de educação física que, em julho de 2015, deu abrigo a 78 pessoas. Agora são 93. Elas fugiram da Síria ou do Afeganistão. Tudo o que possuem está numa mala, debaixo da cama.

Algumas mulheres das proximidades trouxeram para uma das salas papel colorido, tesouras e lápis de cor, fazendo trabalhos manuais com as crianças refugiadas, para distrai-las dos sofrimentos da fuga. Alguns jovens também pintam, para passar o tempo. Ninguém sabe quanto tempo eles poderão ficar em Sand. Ficarão algumas semanas ou meses nesse primeiro centro de acolhimento, para ir então a centros menores. Este prédio é só uma das estações. Lutz Urbach, prefeito de Bergisch Gladbach, ficou sério e pensativo nesses últimos dias. Normalmente, ele é uma pessoa muito otimista que se entrega ao seu trabalho com paixão, que gosta de falar de futebol e que ajuda onde pode. Está preocupado com a questão dos refugiados nessa cidade de 110 mil habitantes que, até agora, em fins de 2015, já acolheu 2000 refugiados. Já no verão, Urbach fora um dos que diziam que as possibilidades de acolhimento eram limitadas. Mas a chegada de refugiados não diminui.

Desde o começo de 2015, mais de 800 mil refugiados vieram para a Alemanha. São os municípios que os têm de acolher e abastecer. Bergisch Gladbach já admite um déficit de 18,5 milhões de euros no orçamento de 2016, sendo que, mesmo assim, a “cultura de boas-vindas” ainda continua sendo muito cordial. São funcionários da cidade, organizações de ajuda e uma rede muito estreita de voluntários que atendem os imigrantes. Apenas a Cruz Vermelha Alemã contratou 144 funcionários em quatro semanas, na comarca Rheinisch-Bergischer Kreis, prestando assistência a alguns alojamentos.

O prefeito Lutz Urbach, executivo corajoso e atencioso, de cabelos grisalhos, diz: “Somos uma cidade rica, pois temos tais habitantes”. Comprando um prédio de uma editora e um hotel, Bergisch Gladbach acredita poder superar a situação dos refugiados que acolhe. A cidade já tinha criado em meados de 2015, na prefeitura municipal, uma “Task Force Flüchtlinge”, que pode cuidar fácil e flexivelmente da aquisição de habitações. Mas, desde meses, estão chegando mais refugiados do que se esperava. O fato de eles morarem em barracas e galpões de ginástica aflige os responsáveis. Lutz Urbach e mais de 200 prefeitos da Renânia do Norte-Vestfália dirigiram, em outubro de 2015, uma carta à chanceler federal Angela Merkel, comunicando que as possibilidades de alojamento já estariam quase esgotadas e que teriam empregado tanto pessoal para os alojamentos “que não podemos – ou só com restrições – cuidar de outras tarefas”.

Ulrich Maly, vice-presidente da Associação Alemã de Cidades e prefeito de Nuremberg, conhece muito bem os desafios que as cidades e municípios enfrentam. No momento, os refugiados na Alemanha estão vivendo em salas de educação física, em tendas, em navios fluviais, em hotéis, em antigos mercados de móveis, diz Maly. “Há de tudo!”. Mas esses primeiros alojamentos de urgência são só a ponta do iceberg. Depois vem a integração, a grande tarefa, a necessidade de lugares em creches, classes escolares, moradias e trabalho. E cursos de integração e de alemão. “Podemos dar conta disso, mas não sem ter custos”, diz Maly. A Associação Alemã de Cidades, representante de 3400 cidades e municípios com um total de 51 milhões de habitantes, exige mais apoio da Federação e dos Estados. Podemos dar conta da imigração de 2015, diz Maly, “mas não podemos imaginar uma imigração desta dimensão durante dez anos”. Em quase todos os municípios há algum tema que não corresponde aos padrões, mas nada se pode fazer contra isto.

Muitos refugiados, que vêm para Bergisch Gladbach, entraram na Alemanha por Passau. A cidade na fronteira com a Áustria e com a República Tcheca tornou-se um ponto, em parte caótico, de interconexão para os refugiados. Ela já se acostumou a receber semanalmente 20 mil refugiados, acolhidos em três pontos de acesso, diz seu prefeito Jürgen Dupper. Na manhã seguinte, depois de terem chegado, eles são levados em trens e ônibus especiais aos centros de acolhimento no resto da Alemanha, como Bergisch Gladbach, a 600 quilômetros de distância. A maioria deles chega aqui de noite. No pátio em frente ao centro operacional da Cruz Vermelha, existe uma tenda quente com muita luz, onde o pessoal cozinha sopa. “Comer, beber e sentir-se bem. Isto é agora o mais importante. Os refugiados estão esgotados”, diz Reinhold Feistl. Ele é gerente da Associação da Cruz Vermelha, seção de Rheinisch-Bergischer Kreis, e supervisiona toda a coordenação de abastecimento dos refugiados pela Cruz Vermelha no sul da Renânia do Norte-Vestfália, além do grupo de ação e da administração. Ele é uma espécie de motor da associação. “No contrato de meus funcionários está fixado que eles têm de sorrir uma vez por dia”, diz ele. Quando o trabalho se torna duro demais, ele aparece no encontro matinal usando um nariz de palhaço. “Fazemos o que podemos”, diz Feistl. “Lutamos e improvisamos. O inverno já vem aí“.

“Nós conseguimos fazer isto”, disse a chanceler Angela Merkel em setembro de 2015. Esta frase visou dar coragem à Alemanha, às pessoas, às cidades, aos municípios. “Nós não conseguimos fazer isto”, respondeu Boris Palmer, prefeito de Tübingen, na sua página no Facebook. Ele se referia ao medo de muitos cidadãos e municípios. O político do partido Aliança 90/Os Verdes calcula que 3,65 milhões de pessoas virão para a Alemanha em um ano, se contarmos com uma afluência de 10 mil pessoas por dia e exige que esse fluxo seja limitado, pois os municípios não dariam conta e ele tem o receio de que a paz social na Alemanha esteja em perigo. Ele ameaçou confiscar casas, se necessário. “Recebo muita aprovação da base comunal, na cidade, nas ruas. Tanta como nunca”, diz Palmer.

O presidente alemão Joachim Gauck visitou Bergisch Gladbach em 2015 e informou-se dos desafios enfrentados pelo município. “Nós conseguimos fazer isto”, disse o prefeito Lutz Urbach. E então, acrescentou uma palavra: “Nós ainda conseguimos fazer isto”. ▪